Por que damos valor às vidas humanas? Por que achamos que o mundo deva ser justo? Por que devemos nos importar com a natureza? Quais as motivações das pessoas? E que nome dar a todas as coisas da vida que não entendemos, não sabemos descrever, mas com as quais temos de lidar o tempo todo?




Atratividade, preferência e seleção sexual

por Leo

Este post talvez seja mais um desabafo do meu incômodo a respeito desse tema do que uma reflexão bem ponderada. Na verdade este é um tema que quase me revolta, muito embora o considere um fato do mundo que não pode ser mudado.

Creio que existem alguns assuntos que, por alguma razão, as pessoas não costumam discutir por aí (eu incluso), talvez por serem tabus, talvez por serem ofensivos ou desrespeitosos a algumas pessoas, talvez por serem incômodos, talvez por serem competitivamente desvantajosos, talvez porque quase ninguém os entenda (ou talvez porque apenas eu não os entenda). São aspectos da vida que são difíceis de se compreender, de se integrar na visão de mundo, no esquema de vida. Em particular, acho que se enquadram aí:

- Manifestação sexual: As pessoas não têm liberdade de expressarem seus desejos sexuais na maioria das situações sociais para que possam julgar quando e como manifestá-los, comparar-se com os demais e se desenvolver. Parece-me que isto faz com que muitas pessoas não manifestem este aspecto devidamente, ora sendo inconvenientes, ora sendo demasiadamente reprimidas.

- Sentimentos: Exceto nos ambientes mais amigáveis, somos desestimulados a expressarmos o que sentimos aos demais, principalmente nos meios urbanos onde as relações sociais são muito pouco íntimas, muitos sentimentos não são discutidos, não se desenvolvem, e muitas vezes sequer têm seu tempo de atenção.

- Gasto e investimento: Não se dá muita ênfase a controlar gastos e investir capital eficientemente, exceto nos meios mais especializados. Não se fala muito disso embora seja de interesse geral.

- Opções de vida: A maioria dos jovens (e não apenas eles) é completamente desinformada sobre suas opções de vida, tanto profissionalmente, como "como é trabalhar na carreira X", riscos, oportunidades, dificuldades e vivências, como também sobre os outros aspectos da vida como viver com prazer, conhecer o mundo, relacionamentos e sexo, arriscar-se, criar, investir, procurar, valorizar. Enfim, quais as opções que a vida oferece (além de escolaridade, emprego e casamento), e as vantagens e desvantagens, riscos e oportunidades.

- Burrice: Pessoas menos inteligentes são rapidamente desprezadas, não se tenta compreendê-las.

- Atratividade sexual: O tema que pretendo tratar.

Na minha visão atual, a atração sexual parece ser um sistema muito cruel em sociedade. Sentimos atração pelas pessoas em grande parte por suas características físicas, cuja maioria das pessoas tem pouca possibilidade de mudar, seja porque não existem meios, seja porque estes são muito custosos ou porque não gostariam. Além disso, mesmo os mais favorecidos perdem sua atratividade com o passar do tempo. É uma herança biológica que provoca muito sofrimento e sobre a qual não há muito o que possa ser feito.

Não estou dizendo que a atração sexual se prenda exclusivamente a características físicas, ela se estende a muito mais, incluindo o fenótipo do indivíduo em geral, muitos traços de personalidade, estilo de vida, experiência, crenças, idéias e sentimentos, reputação e representação social, meios materiais, poder, relacionamentos, entre outros, sem falar das circunstâncias e da história do relacionamento. Apesar disso, caracteres físicos são imediatamente percebidos, são influentes, e como disse, pouco se pode fazer para mudá-los.

Biologicamente, somos seres vivos sexuados com um sofisticado sistema de seleção sexual, provavelmente voltado para encontrar parceiros de maior representação sexual e social, poder, capacidades e saúde, a fim de produzirmos uma prole de boa qualidade genética. O que ocorre é que este sistema de seleção evolui lentamente (centenas de milhares de anos) e está desadaptado ao meio social atual, em particular aos valores morais de igualdade e justiça. Além disso, a seleção sexual também tem lá seus problemas, por exemplo admitindo que os parceiros simulem características, tenham filhos secretamente com outros parceiros, e mantendo caracteres sexuais desfavoráveis (que não são bons para ninguém, mas são mantidos pela herdabilidade da preferência sexual).

Cada um de nós tem preferências sexuais e desejos, e gostaria de poder satisfazê-los, sejam eles referentes a experiências sexuais, a relacionamentos ou a ser desejado. A questão é que para alguns isto é muito mais fácil e para outros, muito mais difícil. Pessoas favorecidas por suas características físicas serão mais valorizadas socialmente, terão mais oportunidades de carreira, relacionamentos sociais e sexuais, receberão mais atenção e carinho, serão mais felizes, terão mais prazer, enfim, viverão uma vida melhor (em média, é claro). Ao passo que as mais desfavorecidas, serão preteridas, muitas vezes sem sequer saber, podendo também ser desprezadas e caçoadas, precisam enfrentar a rejeição e a discriminação (ocasionalmente desenvolvendo problemas psicológicos), e se contentar com relacionamentos insatisfatórios ou esperar pela sorte. É claro que estou pegando casos extremos, que não devem corresponder ao que ocorre com a maioria das pessoas, mas em alguma medida, estas coisas estão ocorrendo o tempo todo e nós somos parte disso. Há muitos fatores atuenuantes: as pessoas tem outras características que podem ajudar ou atrapalhar, há pessoas com preferências sexuais bastante variadas (apesar da moda), e há muita influência do acaso. Porém, não há nada que garanta uma compensação, algumas pessoas continuarão se dando muito bem e outras se dando muito mal.

Para dramatizar um pouco mais, a atratividade em geral decai com a idade, ao passo que a preferência não costuma mudar tanto, levando as pessoas pessoas para a periferia do competitivo mercado sexual, se distanciando do almejado centro. Sem entrar em muitas outras questões como diferença de idade e parceiros múltiplos (poligamia, relacionamentos abertos, etc).

Curiosamente, ao mesmo tempo que a nossa cultura estimula o culto à atratividade física, nós cultuamos pessoas pela sua e muitos de nós queremos ser admirados pela nossa, a nossa cultura por vezes condena a discriminação e admiração preferencial provocada pela atratividade física e nós dizemos que queremos ser admirados por nossas características únicas, especiais e insubstituíveis (e claramente caracteres físicos não pertencem a essa categoria).

O grande problema que vejo nisso tudo é que não há solução. Não parece haver um modo de tornar o sistema mais justo sem negar fortemente nossa atração sexual. É um problema ético aparentemente insolúvel, e aliás, quem disse que para todo problema existe uma solução eticamente aceitável? Para mim este é um dos fatos do mundo que temos de aceitar: a atração sexual humana é discriminatória e injusta, as pessoas não têm as mesmas oportunidades e algumas sequer as têm. Não sei no entanto, como me conduzir em relação a isto.

Por outro lado, se por hipótese, pudéssemos mudar isto, deveríamos fazê-lo? E mudar para o quê? Isto não traria sérios problemas sociais ou a nossa espécie?

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Leo,
Ao contrario de tentar explicar porque os assuntos que você disse não são tratados vou expressar como eu penso sobre eles, talvez já com isso quebrando um certo tabu que você tenta criticar. Os sentimentos são pouco ditos pela questão estratégica de não revelar exatamente o que você pensa, acha ou quer, pois o outro sempre tem interesses diversos dos seus e não revelar o que você realmente quer dele ajuda a o manipular para que ele faça o que você quer sem saber que está fazendo isso. Quando percebo que outra pessoa faz isso comigo acho extremamente desprezível, mas o que é mais desprezível é ela não ter tido a inteligência suficiente para impedir que a tentativa de manipulação de revele como tal. Nessa posição minha talvez ecoe a noção de Nietzsche de que o ato moral que é tido como mal é na verdade um empreendimento que deu errado. Em geral quando eu percebo que a outra pessoa tem inteligência o suficiente para não ser manipulada eu sou mais franco e direito. Igualdade só existe entre os iguais e sempre que há diferenças de capacidades surgem relações de dominação que ocorrem nas mais variadas instancias e nas mais variadas combinações. Esse mais terrível e atroz egoísmo humano é talvez o sentimento que mais se tenta ocultar, tanto do outro como de si mesmo – para que possamos enganar melhor. Quanto a manifestação sexual acho que isso já esta mudando e conforme os resquícios da religião e do moralismo forem sumindo esse assunto será melhor debatido. Qualquer opção de vida mais seria e comprometida é totalmente imprevisível. Tentar cristalizar o seu trajeto de vida numa carreira é justamente a mais completa falta de comprometimento com a própria vida.

Supondo que a tendência do aumento pressão evolutiva por caracteres não físicos se mantenha constante a preferência sexual vai demorar milhares de anos para mudar por completo. Conviver com ela e ao mesmo tempo buscar parceiros que tenham as outras características desenvolvidas (como inteligência, etc..) é tudo o que podemos fazer. Talvez seja necessário separar o sexo e o prazer corpóreo do resto e cultivar os dois tipos de relação simultaneamente. Supor que a probabilidade de encontrar uma só pessoa que de conta dessas duas necessidades humanas satisfatoriamente não é irrisória é um absurdo romântico; a não ser que essas necessidades sejam inerentemente baixas. Em adição não há nenhuma evidencia de que espalhar os genes das pessoas bonitas e poderosas seja menos vantajoso para a humanidade do que espalhar os genes dos que tem os outros aspectos mais desenvolvidos. Se dedicar a achar uma parceira e a cultivar relações afetivas é também uma escolha, quem decide por desenvolver esse aspecto da vida acaba tendo mais sucesso nesse aspecto. No entanto não é universalmente valido que esse tipo de desenvolvimento proporciona felicidade.

Finalizando e fazendo uma consideração geral: o grande problema da moral é que ela evita admitir a si mesma. Citando Nietzsche:
“De novo se apresenta o perigo, o pai da moral, o grande perigo, desta vez situado no indivíduo, no próximo e amigo, nas ruas, no próprio filho, no próprio coração, no que é mais próprio e mais secreto no voto e na vontade: o que haverão de pregar os filósofos da moral que a essa altura surgem no horizonte? Eles descobrem, esses observadores e ociosos perspicazes, que rapidamente se chega ao fim, que tudo à sua volta é corrompido e corrompe, que nada fica de pé até amanhã, com exceção de uma espécie de homens, os incuravelmente medíocres. Apenas os medíocres têm perspectivas de prosseguir, procriar — eles são os homens do futuro, os únicos sobreviventes; "sejam como eles! tornem-se medíocres!", diz a única moral que agora tem sentido, que ainda encontra ouvidos. —Mas é difícil de se pregar, essa moral da mediocridade! — ela não pode jamais admitir o que é e o que quer! tem de falar de medida, dignidade, dever e amor ao próximo — terá necessidade de ocultar a ironia!” (Aelm do bem e do mal, aforismo 262)

Abraços

quinta-feira, maio 15, 2008 12:07:00 AM  
Blogger Unknown disse...

Muito interessante seu post, gostei de ter lido. Como vc notou, esse parece ser um problema sem solução, ao menos sem uma solução normal. Asolução é o transhumanismo!!!!

Pode crer nisso hauahuahuahau

Existe outra maneira de mudar os nossos problemas intrínsecos, senão mudando nossa própria natureza?

Acho que o ser humano é errado demais para que se possa conseguir resultados suficientes de uma outra forma.

Vou procurar acompanhar mais o seu blog... se quiser dê uma olhada no meu também! Abraços!

terça-feira, julho 01, 2008 6:35:00 AM  
Blogger Van der Camps disse...

Realmente a beleza não está distribuida de maneira uniforme. Pesquisa feita entre as mulheres resultou que apenas 1% delas se acha bonita. No entanto, sabe-se que quase todo mundo casará ou viverá um relacionamento com outra pessoa até os 50 anos de idade. Não existe solução obvia para esse problema. O que existe é a internet, com seus sites de relacionamento, que multiplicaram muito as possibilidades de encontrar um parceiro compatível. Cerca de 50% das pessoas são tímidas e não estão disponíveis para encontros na balada por exemplo. Só com a inclusão dessas pessoas temos um universo de novas possibilidades com a rede. Na internet se conhece a pessoa de dentro para fora (aparência). Na vida normal ocorre o contrário,e, ai entra os seus comentários.
Sabemos que a possibilidade de um relacionamento ser de longa duração é proporcional a semelhança entre as crenças, objetivos e visões do mundo dos parceiros. Nesse quesito a internet é excelente e eu mesmo sou a prova disso.
Abração !
Marcos

domingo, outubro 04, 2009 4:30:00 PM  

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