O problema da psicanálise
por Leo
(também publicado em inglês no blog Brainstormers)
A psicanálise sempre me intrigou muito, desde que tive contato com ela pela primeira vez no ensino médio até hoje quando tenho alguma condição de contextualizá-la e compará-la em meio às outras ciências da mente. Não há dúvidas que ela seja um assunto controverso, tanto nos seus aspectos téoricos, quanto metodológicos, quanto práticos; as pessoas parecem ter uma reação um tanto cética e sarcástica à idéia de que possamos ter desejos incestuosos (inconscientes) por nossos pais, de que um bom modelo de psicoterapia consista basicamente em dizer "fale mais sobre isto", ou ainda que alguém esteja precisando enfrentar seus sentimentos reprimidos.
Devo dizer no entanto que acho que a psicanálise deve ser levada a sério. O motivo principal é porque acredito na realidade do seu objeto de estudo; acho que temos fortes evidências de que o inconsciente, o significado dos sonhos, a repressão, a hipnose, os mecanismos de defesa, os transtornos de personalidade, os sintomas neuróticos são fenômenos reais, e que não são tão satisfatoriamente explicados por outras teorias. A psicanálise me parece ser a única teoria (juntamente a suas variantes) que pretende explicar de maneira ampla como elaboramos nossas representações simbólicas e emocionais diante dos problemas que a vida nos impõe, como isto forma nossa personalidade e afeta nosso comportamento, e das suas implicações sobre a natureza do nosso aparelho psíquico, da nossa identidade e da sociedade e cultura em geral.
No entanto é preciso se ter um cuidado muito grande ao se ler Freud e seus seguidores, não porque não foram investigadores criteriosos (acho que Freud tinha um nível de rigor bem alto), mas porque viveram numa época em que nosso conhecimento sobre o cérebro e a evolução humana ainda eram muito, muito primários, de modo que ainda não havia como saber claramente que tipo de estruturas, mecanismos e funções (fisiológicas e adaptativas) o cérebro humano implementava, e só era possível se especular. Mas mesmo tendo toda a fé no projeto das neurociências e na psicologia evolucionista, acho que a psicanálise mantém seu nicho explicativo, o de descrever, explicar e analisar como se formam as representações simbólicas, como é sua dinâmica, e como são relacionadas aos conteúdos da consciência. Também tenho sérias dúvidas se fenômenos como estes poderiam ser estudados com tal profundidade de alguma maneira que não a análise do discurso individual.
Infelizmente a psicanálise parece ter parado um pouco no tempo. Freud e seus seguidores não foram tão bem sucedidos em criar uma ciência quanto em criar uma seita profissional, assim como diversas outras escolas da psicologia, e que, ao invés de terem se concentrado em verificar, testar, fundamentar e confirmar as teses originalmente propostas, incorporar descobertas de outras ciências, abandonar teses não verificadas, se contentaram em ler seus fundadores e segui-los ortodoxamente. De forma que ao invés de progredir, se tornar um corpo teórico robusto, aberto e integrado ao resto do conhecimento humano, foi se degenerando, se fechando, obscurecendo e obsolecendo.
Tenho a impressão de que algo se deu muito errado. Os psicanalistas não me parecem ter o espírito investigador de Freud, sondando, apalpando, experimentando, e descrevendo a forma das estruturas subjetivas; parecem-me muito mais na posição de observadores, que se confortam em procurar confirmações das suas crenças; a psicanálise parece ter se tornado um jogo místico como a astrologia ou jogo de búzios e os psicanalistas entusiasmados com sua erudição hermética e distintiva parecem delirar em brincar com metáforas e conceitos de realidade duvidosa enquanto esquecem que teoricamente estão falando de um objeto muito concreto: o aparelho psíquico humano, como funciona de fato a psique em cada indivíduo da nossa espécie.
Eu fico triste de ver o desprezo que a comunidade neurocientífica tem pela psicanálise, que cada vez mais é tomada como pseudociência. Acho que se tem muito a perder aí, a psicanálise enormemente por ignorar um paradigma que a deveria fundamentar, e as neurociências por ignorarem a estrutura simbólica fina que a relaciona com as representações da consciência, dos sentimentos e da linguagem. A responsabilidade desta situação a meu ver é de ambos, mas primariamente dos psicanalistas que não se propõem a testar suas hipóteses, formulá-las claramente e estruturar suas teorias formalmente. Uma das grandes dificuldades da psicanálise na minha opinião é sua imprecisão linguística, e já que aparentemente não é derivada de inabilidade dos seus autores, interpreto que possa ser algum tipo de mecanismo de defesa que protege uma auto-estima insegura com um obscurantismo pedante por ter medo de que afirmações mais claras e assertivas possam expô-los à refutabilidade das ciências comuns. É claro que uma afirmação precisa verdadeira, por outro lado, é muito útil e valiosa.
Assim sendo, à defesa da minha tese de que a psicanálise é valiosa enquanto ciência do domínio simbólico psíquico, vou propor algumas afirmações que julgo serem significativas, razoavelmente refutáveis, e que até onde sei estão em bom acordo com a teoria psicanalítica convencional. Em especial, acho que muitas delas são suscetíveis a testes de neuroimagem, experimentos comportamentais e testes práticos simples, é claro, acompanhados de uma análise estatística:
- A vida mental consciente é regulada de um sistema que restringe ou bloqueia o acesso a determinadas representações de forte conotações emocionais ou morais negativas.
- Representações "expulsas" da consciência tem um acesso voluntário mais difícil (resistência) até que consiga ser conscientizado. Obs: Há casos documentados semelhantes em pacientes com anosognosia.
- Conflitos e bloqueios simbólicos podem ter consequências sobre a mobilidade motora voluntária (histeria).
- Representações episódicas são frequentemente associadas a valores emocionais (gostar, desgostar, aversão, nojo, expectativas, frustração, humilhação, enaltecimento, etc) que influenciam na sua acessibilidade consciente.
- Representações associadas a valores emocionais semelhantes frequentemente se associam, a evocação de uma trazendo espontaneamente ou facilitando o acesso a outra. A associação livre muitas vezes revela este tipo de associação.
- Representações inacessíveis (recalcadas) muitas vezes se associam a outras transmitindo seu valor emocional a elas sem que elas pareçam ter um valor aparente. A lembrança da representação inacessível desfaz a associação.
- Intensidade emocional durante a lembrança é relevante para o alívio do sintoma (catarse).
- O conteúdo dos sonhos muitas vezes expressa desejos inconscientes transfigurados na forma de metáforas e metonímias.
- Episódios traumáticos recentes costumam provocar inicialmente sonhos pouco transfigurados. Isto deve aumentar a medida que o indivíduo re-significa sua experiência integrando a memória do episódio melhor com a do resto da sua vida.
- O padrão de relação com a mãe, especialmente na infância, forma um modelo fortemente determinante sobre os relacionamentos íntimos posteriores do indivíduo, que muitas vezes repetem padrões semelhantes (Complexo de Édipo). John Bowlby desenvolveu esta idéia na sua teoria do apego. Talvez estudos de neuroimagem fossem interessantes.
- A repressão moral feita pelos pais serve de base para a repressão moral própria sobre os conteúdos da consciência (superego).
- Existe uma energia sexual (libido) que pode ser liberada de diversas formas, das quais o ato sexual costuma ser uma das mais eficientes, mas que também poderia ser liberada por outras atividades prazerosas.
- Deve haver comportamentos típicos esperados em cada fase do desenvolvimento psicossexual segundo as questões simbólicas envolvidas (Freud),
- Mecanismos de defesa (Anna Freud) e seus deflagradores, seus determinantes ontogenéticos (repressão, negação, racionalização, projeção, idealização, fantasia, dissociação, etc...).
- Previsão dos sintomas neuróticos baseada em características de personalidade do paciente.
- Prognóstico dos sintomas baseado no tipo de temas abordados em terapia e de personalidade.
A psicanálise sempre me intrigou muito, desde que tive contato com ela pela primeira vez no ensino médio até hoje quando tenho alguma condição de contextualizá-la e compará-la em meio às outras ciências da mente. Não há dúvidas que ela seja um assunto controverso, tanto nos seus aspectos téoricos, quanto metodológicos, quanto práticos; as pessoas parecem ter uma reação um tanto cética e sarcástica à idéia de que possamos ter desejos incestuosos (inconscientes) por nossos pais, de que um bom modelo de psicoterapia consista basicamente em dizer "fale mais sobre isto", ou ainda que alguém esteja precisando enfrentar seus sentimentos reprimidos.
Devo dizer no entanto que acho que a psicanálise deve ser levada a sério. O motivo principal é porque acredito na realidade do seu objeto de estudo; acho que temos fortes evidências de que o inconsciente, o significado dos sonhos, a repressão, a hipnose, os mecanismos de defesa, os transtornos de personalidade, os sintomas neuróticos são fenômenos reais, e que não são tão satisfatoriamente explicados por outras teorias. A psicanálise me parece ser a única teoria (juntamente a suas variantes) que pretende explicar de maneira ampla como elaboramos nossas representações simbólicas e emocionais diante dos problemas que a vida nos impõe, como isto forma nossa personalidade e afeta nosso comportamento, e das suas implicações sobre a natureza do nosso aparelho psíquico, da nossa identidade e da sociedade e cultura em geral.
No entanto é preciso se ter um cuidado muito grande ao se ler Freud e seus seguidores, não porque não foram investigadores criteriosos (acho que Freud tinha um nível de rigor bem alto), mas porque viveram numa época em que nosso conhecimento sobre o cérebro e a evolução humana ainda eram muito, muito primários, de modo que ainda não havia como saber claramente que tipo de estruturas, mecanismos e funções (fisiológicas e adaptativas) o cérebro humano implementava, e só era possível se especular. Mas mesmo tendo toda a fé no projeto das neurociências e na psicologia evolucionista, acho que a psicanálise mantém seu nicho explicativo, o de descrever, explicar e analisar como se formam as representações simbólicas, como é sua dinâmica, e como são relacionadas aos conteúdos da consciência. Também tenho sérias dúvidas se fenômenos como estes poderiam ser estudados com tal profundidade de alguma maneira que não a análise do discurso individual.
Infelizmente a psicanálise parece ter parado um pouco no tempo. Freud e seus seguidores não foram tão bem sucedidos em criar uma ciência quanto em criar uma seita profissional, assim como diversas outras escolas da psicologia, e que, ao invés de terem se concentrado em verificar, testar, fundamentar e confirmar as teses originalmente propostas, incorporar descobertas de outras ciências, abandonar teses não verificadas, se contentaram em ler seus fundadores e segui-los ortodoxamente. De forma que ao invés de progredir, se tornar um corpo teórico robusto, aberto e integrado ao resto do conhecimento humano, foi se degenerando, se fechando, obscurecendo e obsolecendo.
Tenho a impressão de que algo se deu muito errado. Os psicanalistas não me parecem ter o espírito investigador de Freud, sondando, apalpando, experimentando, e descrevendo a forma das estruturas subjetivas; parecem-me muito mais na posição de observadores, que se confortam em procurar confirmações das suas crenças; a psicanálise parece ter se tornado um jogo místico como a astrologia ou jogo de búzios e os psicanalistas entusiasmados com sua erudição hermética e distintiva parecem delirar em brincar com metáforas e conceitos de realidade duvidosa enquanto esquecem que teoricamente estão falando de um objeto muito concreto: o aparelho psíquico humano, como funciona de fato a psique em cada indivíduo da nossa espécie.
Eu fico triste de ver o desprezo que a comunidade neurocientífica tem pela psicanálise, que cada vez mais é tomada como pseudociência. Acho que se tem muito a perder aí, a psicanálise enormemente por ignorar um paradigma que a deveria fundamentar, e as neurociências por ignorarem a estrutura simbólica fina que a relaciona com as representações da consciência, dos sentimentos e da linguagem. A responsabilidade desta situação a meu ver é de ambos, mas primariamente dos psicanalistas que não se propõem a testar suas hipóteses, formulá-las claramente e estruturar suas teorias formalmente. Uma das grandes dificuldades da psicanálise na minha opinião é sua imprecisão linguística, e já que aparentemente não é derivada de inabilidade dos seus autores, interpreto que possa ser algum tipo de mecanismo de defesa que protege uma auto-estima insegura com um obscurantismo pedante por ter medo de que afirmações mais claras e assertivas possam expô-los à refutabilidade das ciências comuns. É claro que uma afirmação precisa verdadeira, por outro lado, é muito útil e valiosa.
Assim sendo, à defesa da minha tese de que a psicanálise é valiosa enquanto ciência do domínio simbólico psíquico, vou propor algumas afirmações que julgo serem significativas, razoavelmente refutáveis, e que até onde sei estão em bom acordo com a teoria psicanalítica convencional. Em especial, acho que muitas delas são suscetíveis a testes de neuroimagem, experimentos comportamentais e testes práticos simples, é claro, acompanhados de uma análise estatística:
- A vida mental consciente é regulada de um sistema que restringe ou bloqueia o acesso a determinadas representações de forte conotações emocionais ou morais negativas.
- Representações "expulsas" da consciência tem um acesso voluntário mais difícil (resistência) até que consiga ser conscientizado. Obs: Há casos documentados semelhantes em pacientes com anosognosia.
- Conflitos e bloqueios simbólicos podem ter consequências sobre a mobilidade motora voluntária (histeria).
- Representações episódicas são frequentemente associadas a valores emocionais (gostar, desgostar, aversão, nojo, expectativas, frustração, humilhação, enaltecimento, etc) que influenciam na sua acessibilidade consciente.
- Representações associadas a valores emocionais semelhantes frequentemente se associam, a evocação de uma trazendo espontaneamente ou facilitando o acesso a outra. A associação livre muitas vezes revela este tipo de associação.
- Representações inacessíveis (recalcadas) muitas vezes se associam a outras transmitindo seu valor emocional a elas sem que elas pareçam ter um valor aparente. A lembrança da representação inacessível desfaz a associação.
- Intensidade emocional durante a lembrança é relevante para o alívio do sintoma (catarse).
- O conteúdo dos sonhos muitas vezes expressa desejos inconscientes transfigurados na forma de metáforas e metonímias.
- Episódios traumáticos recentes costumam provocar inicialmente sonhos pouco transfigurados. Isto deve aumentar a medida que o indivíduo re-significa sua experiência integrando a memória do episódio melhor com a do resto da sua vida.
- O padrão de relação com a mãe, especialmente na infância, forma um modelo fortemente determinante sobre os relacionamentos íntimos posteriores do indivíduo, que muitas vezes repetem padrões semelhantes (Complexo de Édipo). John Bowlby desenvolveu esta idéia na sua teoria do apego. Talvez estudos de neuroimagem fossem interessantes.
- A repressão moral feita pelos pais serve de base para a repressão moral própria sobre os conteúdos da consciência (superego).
- Existe uma energia sexual (libido) que pode ser liberada de diversas formas, das quais o ato sexual costuma ser uma das mais eficientes, mas que também poderia ser liberada por outras atividades prazerosas.
- Deve haver comportamentos típicos esperados em cada fase do desenvolvimento psicossexual segundo as questões simbólicas envolvidas (Freud),
- Mecanismos de defesa (Anna Freud) e seus deflagradores, seus determinantes ontogenéticos (repressão, negação, racionalização, projeção, idealização, fantasia, dissociação, etc...).
- Previsão dos sintomas neuróticos baseada em características de personalidade do paciente.
- Prognóstico dos sintomas baseado no tipo de temas abordados em terapia e de personalidade.
5 Comentários:
Leo,concordo com seus apontamentos, especialmente com a idéia de que os psicanalistas são, digamos assim: negligentes. Acho que não há boas razões para isto: "as pessoas costumam ter uma reação um tanto cética e sarcástica", mas acho que de fato acontece.
Desconfio que seja por causa da nossa cultura, talvez seja meio óbvio o que estou dizendo. Investigar nossos pensamentos e sentimentas é algo que além de não aprendermos a fazer (me refiro a maioria das pessoas), também aprendemos que é meio negativo (justamente porque as pessoas passam esta idéia de ser uma coisa inúti (por verem de forma cética), e de ser bobagem (por verem de forma sarcástica). Então, aprendemos a não adentrar assuntos psicanalíticos, pois são uma besteira.
O que será que contribuiu para que se instaurasse este pensamento e por que será que ele permaneceu? Acredito que tenha alguma relação com aquela barreira matefórica do nosso cérebro pra evitar que tenhamos percepções tão bombásticas sobre tudo o tempo todo. Só que esta seria uma barreira metafórica social pra que as pessoas não ficassem se perdendo em questionamentos psicanalíticos cujos rumos podem se tornar obscuros e dificultar a vida.
Só que talvez, mais uma vez, aconteça o problema acontecer uma deturpação do mecanismo, que deveria produzir seu efeito útil e sair de cena, só que acabamos não conseguindo descartá-lo e ele fica constantemente em operação a ponto de se tornar um padrão de conduta social. Daí a grande preocupação com a irresponsabilidade dos psicanalistas que aparentemente não se empenham em dissolver este tabu, e pelo contrário, contribuem com ele, como vc mesmo disse: "a psicanálise parece ter se tornado um jogo místico como a astrologia ou jogo de búzios e os psicanalistas entusiasmados com sua erudição hermética e distintiva parecem delirar em brincar com metáforas e conceitos de realidade duvidosa enquanto esquecem que teoricamente estão falando de um objeto muito concreto".
Acho que uma possível maneira de tentar desconstruir esta imagem negativa e equivocada sobre a psicanálise (como ela deveria ser pelo menos), é tentar chamar a atenção sobre a "realidade do seu objeto de estudo". Mas quem deve se ocupar disso? Os próprios psicanalistas? Os filósofos? os neuroscientistas?
Leo, dado que suas observações estejam "certas" (e não sejam fruto de sua experiência pessoal), acho que estes são pontos importantes a serem discutidos:
- É relevante identificar as causas do atual padrão de conduta em relação a psicanálise?
- É possível desconstruir a atual imagem predominante sobre a psicanalíse? Quem deve fazer isso? Como?
- Como construir uma visão realista e bem fundamentada? Quem deve fazer isso?
- As consequências de tal imagem aparentemente atrapalham os progressos nesta área. A situação poderia ser "contornada" pelos psicanalistas independentemente de como a sociedade vê a psicanalise?
- Os psicanalistas devem ter mais compromisso do que outros profissionais por atuarem numa área socialmente mal interpretada?
- Os psicanalistas têm mais condições pra serem negligentes que outros profissionais, já que a avaliação dos resultados de seu trabalho é algo difícil e controverso de ser feito?
- Eles contribuem com o "não progresso" da psicanálise ou só não se empenham em fazer algo para melhorar?
- Convém discutir se a psicanálise é ou não importante ou é indubitável que seja? Leo, estes exemplos que vc deu sobre as atuações da psicanálise são suficientes para concluirmos que ela é importante?
mais uma coisa: "a realidade de seu objeto de estudo" é tão garantida assim?
E, "teoricamente estão falando de um objeto muito concreto: o aparelho psíquico humano, como funciona de fato a psique em cada indivíduo da nossa espécie", será que isto não é um pouco mais complicado do que vc colocou? O aparelho psiquico humano é, seguramente, um objeto MUITO concreto? Talvez seja apenas um objeto com muita coisa concreta.
Bom, ser ou não MUITO concreto, é uma investigação importante no sentido de resolver o problema que vc apontou: o andamento da psicanálise?
Concordo que inteligência emocional não seja algo particularmente incentivado socialmente, e que hoje em dia muitos consideram perda de tempo. Acho que as pessoas parecem preocupadas demais com questões práticas e materiais e atribuem a estas as causas de todos os seus problemas.
Hoje, no dia seguinte do meu post, avalio que minha linguagem foi excessivamente passional e que meu modo de me expressar possivelmente favorece mais oposição e atitudes defensivas do que motivação para que minha proposta seja bem-vinda. Penso que ajo errado em tentar repreender moralmente, deveria fazer uma crítica mais objetiva e assertiva, expondo claramente os valores envolvidos.
Você pergunta quem deveria se ocupar de chamar atenção para a realidade do objeto de estudo da psicanálise. Eu acho que todos que sejam capazes de fazê-lo com propriedade. Sejam eles psicanalistas, psicólogos, filósofos, neurocientistas, ou mesmo jornalistas.
Em relação às perguntas:
É relevante identificar as causas?
Acho que sim, muitas vezes percebermos motivações até então desapercebidas permitem que as mudemos.
Acho que a imagem que a psicanálise tem atualmente não é um objeto de preocupação tão importante, o importante é o que os psicanalistas fazem. Se eles mudarem de postura a imagem deve mudar junto.
Como construir uma visão realista e bem fundamentada? Não sei, mas em geral, acho que estudando com seriedade e objetividade seu objeto de estudo, se utilizando de todos os meios válidos disponíveis.
Sim, acho que de fato a verificação e refutação são mais difíceis em psicanálise do que em outras áreas por se tratar de seres humanos, por limitações éticas, e pela falta de controle sobre o objeto. Sem falar do envolvimento emocional, de inúmeros viéses cognitivos (principalmente de interpretação) e das próprias limitações metodológicas. Tudo isto diminui o feedback e assim aumenta a margem de erro.
Bom, a realidade do objeto de estudo foi parte do que tentei defender. Há fenômenos que precisam ser devidamente explicados, como os que mencionei, acho que isto fundamenta empíricamente a psicanálise, a não ser que se demonstre ser inficaz, desnecessária ou que outras teorias se mostrem mais apropriadas para explicá-los.
Muito bom, Leo! Taih um ohtimo ( e longo ) projeto de pesquisa. Noto tambem que o texto estah muito bem escrito.
abraco =)
Encontrei uma iniciativa no sentido de reinterpretar alguns conceitos psicanalíticos de forma neurocientífica, e parece estar amparada por bons neurocientistas:
Neuropsychoanalysis Journal
Tem também na Wikipedia:
Neuropsychoanalysis
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