A utilidade e a relevância na pesquisa universitária
por Leo
Publiquei este post também no blog Brainstormers, onde espero receber mais comentários.
Fico bastante intrigado pela quantidade de pesquisas e teses que me parecem não ter nenhuma preocupação em trazer algo relevante ou útil à sociedade ou mesmo ao conhecimento científico (eu daria alguns exemplos, mas não quero que ninguém se sinta ofendido, cada um sabe o que faz). Isto é ainda mais alarmante se considerarmos que são o produto de anos de dedicação, usando recursos públicos (normalmente financiado por bolsas) e no lugar de outros tipos de pesquisa.
Não acho que deva ser negado o direito de se pesquisar um assunto que se queira, mas acho que a situação chega a uma proporção irracional. Não vejo um incentivo e nem mesmo uma preocupação em pesquisar assuntos de importância social e pior, ocasionalmente encontro até pessoas relutantes em fazer qualquer pesquisa com aplicações práticas. Não vejo nenhum sentido nisso. Acho que nos preocuparmos em fazer pesquisa útil e relevante não é uma subordinação ao mercado, ou às pressões da sociedade, é uma opção ética: é escolher utilizar uma oportunidade em favor de fazer algo bom para alguém.
Principalmente na nossa sociedade, onde vemos tantos problemas e não sabemos como resolver. Acadêmicos não servem só para especular, criticar e "pensar positivo", servem também para resolver problemas. Dedico este post principalmente às pessoas das áreas de ciências sociais: sociologia, política, economia, filosofia e afins, por acreditar que supostamente são as pessoas para as quais esta questão é mais urgente e importante. Mas acho que minha crítica se aplica a todas as áreas de pesquisa.
Pode ser uma perspectiva pessoal minha, mas acho que o conhecimento humano tem valor à medida de que é útil. O conhecimento não é um objeto meramente estético, não conhecemos por conhecer; conhecemos para entendermos melhor como funciona o mundo, para vivermos melhor nele, para resolvermos nossos problemas e conseguirmos criar coisas novas. O conhecimento não precisa ter uma utilidade prática imediata, mas deve ter alguma. E se a universidade é o lugar onde supostamente o conhecimento é feito e promovido, acho que é o lugar onde deveria ser feito de modo mais útil.
Não gosto muito de prescrever coisas, mas tenho para mim que as pesquisas universitárias deveriam atender a pelo menos um de três critérios, nesta ordem de prioridade:
1. Ajudar a resolver um problema humano ou a desenvolver algo que melhore a vida das pessoas.
2. Ajudar a responder uma pergunta fundamental ou fortemente relevante ao desenvolvimento do conhecimento científico.
3. Investigar e explorar algo cujo potencial ainda não está bem demarcado.
Assim, acho que contextualizar e priorizar as pesquisas em termos destes 3 critérios é fundamental, e que todo pesquisador deveria se orientar por eles. Também não acho que isto seja restrito à pesquisa, os cursos de graduação também deveriam ter este viés, os alunos deveriam ser incentivados a propagar e utilizar seu conhecimento, deveriam saber como aplicá-lo. Creio que isto teria muitos frutos positivos, a curto, médio e longo prazo.
Num aspecto mais individual, acho que cada um deveria escolher dentro destes critérios, o tema de pesquisa em que se julgar mais competente e promissor, de acordo com as próprias capacidades, conhecimentos, interesses e valores. Ou seja, deve-se investir nas coisas que aparentam ser mais promissoras, favoráveis e interessantes.
Ainda estou na graduação, mas acho absurdo saber que a maioria das teses de pós-graduação nunca são relidas, e de ver a abismal ineficácia causal de boa parte do mundo universitário sobre a vida das pessoas, tanto material quanto ideologicamente. Parece-me que as pessoas competentes da universidade são insistentemente atraídas a nichos onde podem ter um profundo envolvimento de suas capacidades intelectuais com o menor impacto possível sobre a realidade.
Gostaria de saber o que pensam a respeito, principalmente os que discordam.
p.S.: Uma visão um pouco idealizada da ciência é a de que ela consiste em decompor grandes questões difíceis e complexas sobre a realidade em pequenas perguntas mais fáceis de serem respondidas pelos métodos de investigação científicos. Acredito que tanto as questões da ciência como os problemas humanos tem uma estrutura hierárquica deste tipo. Acho que é um exercício interessante tentar encontrar dentro de que grande pergunta e dentro de quais outras subperguntas se encontra sua pesquisa, para se saber quais delas poderão ser parcialmente respondidas com a resposta que obtiver.
p.p.S.: Adicionando contribuições posteriores (principalmente da Karynn), acho que poderia se estender ligeiramente os 3 critérios:
1. Ajudar a resolver um problema humano ou a desenvolver algo que melhore a vida das pessoas e/ou da sua relação com o meio ambiente e outros seres vivos.
2. Ajudar a responder uma pergunta fundamental ou fortemente relevante ao desenvolvimento do conhecimento científico ou filosófico.
3. Investigar e explorar assuntos cujo potencial e aplicabilidade ainda não estão bem definidos.
Convém também dar uma ênfase maior às questões e autores atuais os quais ainda podem ser influenciados pelos frutos da pesquisa.
Fico bastante intrigado pela quantidade de pesquisas e teses que me parecem não ter nenhuma preocupação em trazer algo relevante ou útil à sociedade ou mesmo ao conhecimento científico (eu daria alguns exemplos, mas não quero que ninguém se sinta ofendido, cada um sabe o que faz). Isto é ainda mais alarmante se considerarmos que são o produto de anos de dedicação, usando recursos públicos (normalmente financiado por bolsas) e no lugar de outros tipos de pesquisa.
Não acho que deva ser negado o direito de se pesquisar um assunto que se queira, mas acho que a situação chega a uma proporção irracional. Não vejo um incentivo e nem mesmo uma preocupação em pesquisar assuntos de importância social e pior, ocasionalmente encontro até pessoas relutantes em fazer qualquer pesquisa com aplicações práticas. Não vejo nenhum sentido nisso. Acho que nos preocuparmos em fazer pesquisa útil e relevante não é uma subordinação ao mercado, ou às pressões da sociedade, é uma opção ética: é escolher utilizar uma oportunidade em favor de fazer algo bom para alguém.
Principalmente na nossa sociedade, onde vemos tantos problemas e não sabemos como resolver. Acadêmicos não servem só para especular, criticar e "pensar positivo", servem também para resolver problemas. Dedico este post principalmente às pessoas das áreas de ciências sociais: sociologia, política, economia, filosofia e afins, por acreditar que supostamente são as pessoas para as quais esta questão é mais urgente e importante. Mas acho que minha crítica se aplica a todas as áreas de pesquisa.
Pode ser uma perspectiva pessoal minha, mas acho que o conhecimento humano tem valor à medida de que é útil. O conhecimento não é um objeto meramente estético, não conhecemos por conhecer; conhecemos para entendermos melhor como funciona o mundo, para vivermos melhor nele, para resolvermos nossos problemas e conseguirmos criar coisas novas. O conhecimento não precisa ter uma utilidade prática imediata, mas deve ter alguma. E se a universidade é o lugar onde supostamente o conhecimento é feito e promovido, acho que é o lugar onde deveria ser feito de modo mais útil.
Não gosto muito de prescrever coisas, mas tenho para mim que as pesquisas universitárias deveriam atender a pelo menos um de três critérios, nesta ordem de prioridade:
1. Ajudar a resolver um problema humano ou a desenvolver algo que melhore a vida das pessoas.
2. Ajudar a responder uma pergunta fundamental ou fortemente relevante ao desenvolvimento do conhecimento científico.
3. Investigar e explorar algo cujo potencial ainda não está bem demarcado.
Assim, acho que contextualizar e priorizar as pesquisas em termos destes 3 critérios é fundamental, e que todo pesquisador deveria se orientar por eles. Também não acho que isto seja restrito à pesquisa, os cursos de graduação também deveriam ter este viés, os alunos deveriam ser incentivados a propagar e utilizar seu conhecimento, deveriam saber como aplicá-lo. Creio que isto teria muitos frutos positivos, a curto, médio e longo prazo.
Num aspecto mais individual, acho que cada um deveria escolher dentro destes critérios, o tema de pesquisa em que se julgar mais competente e promissor, de acordo com as próprias capacidades, conhecimentos, interesses e valores. Ou seja, deve-se investir nas coisas que aparentam ser mais promissoras, favoráveis e interessantes.
Ainda estou na graduação, mas acho absurdo saber que a maioria das teses de pós-graduação nunca são relidas, e de ver a abismal ineficácia causal de boa parte do mundo universitário sobre a vida das pessoas, tanto material quanto ideologicamente. Parece-me que as pessoas competentes da universidade são insistentemente atraídas a nichos onde podem ter um profundo envolvimento de suas capacidades intelectuais com o menor impacto possível sobre a realidade.
Gostaria de saber o que pensam a respeito, principalmente os que discordam.
p.S.: Uma visão um pouco idealizada da ciência é a de que ela consiste em decompor grandes questões difíceis e complexas sobre a realidade em pequenas perguntas mais fáceis de serem respondidas pelos métodos de investigação científicos. Acredito que tanto as questões da ciência como os problemas humanos tem uma estrutura hierárquica deste tipo. Acho que é um exercício interessante tentar encontrar dentro de que grande pergunta e dentro de quais outras subperguntas se encontra sua pesquisa, para se saber quais delas poderão ser parcialmente respondidas com a resposta que obtiver.
p.p.S.: Adicionando contribuições posteriores (principalmente da Karynn), acho que poderia se estender ligeiramente os 3 critérios:
1. Ajudar a resolver um problema humano ou a desenvolver algo que melhore a vida das pessoas e/ou da sua relação com o meio ambiente e outros seres vivos.
2. Ajudar a responder uma pergunta fundamental ou fortemente relevante ao desenvolvimento do conhecimento científico ou filosófico.
3. Investigar e explorar assuntos cujo potencial e aplicabilidade ainda não estão bem definidos.
Convém também dar uma ênfase maior às questões e autores atuais os quais ainda podem ser influenciados pelos frutos da pesquisa.
4 Comentários:
Não vou comentar nada porque concordo com tudo o que você disse, e, desconfiuo que não haverá críticas ou comentários de pessoas que discordam. Acho que as poucas pessoas que lêem esse blog não são desse tipo que vc mencionou. E pelo que conheço delas ( e são muitas!!!!!!!), não gastariam o tempo que dedicam a sua infindável pesquisa teórica e sem quase nenhuma utilidade prática, para ler e muito menos comentar esse post, infelizmente, porque eu gostaria muito de saber como elas argumentariam para legitimar o que fazem.
Outro dua conversando com uma colega, apresentei essa questão e o argumento que ela tentou a favor desse tipo de pesquisa foi que "pode ter algum valor pessoal pra quem estuda". Ai,ai... dizer o que né?
Não entendo por que as pessoas não se interessam pelo que está próximo. Gastam anos e anos tentando entender determinado autor, mas nunca cogitam tentar compreender uma pessoa de sua convivencia. Quando Leem um autor, querem arrancar tudo o que conseguem, supõe coisas, imaginam que com aquela frase o autor estava revelando isso e aquilo e que no fundo aquela outra vírgula queria dizer não sei o que... coisas tão teóricas que elas jamais poderão saber ao certo. E a pessoa real, que poderia ser seguramente investigada, que poderia responder sobre a utilidade de uma vírgula, sobre a existencia ou não de uma idéia contida numa frase, não desperta nenhum interesse. A menos que ela morra e passem-se algumas décadas, então alguem começará a espicular sobre suas palavras, suas vírgulas... e assim vai.
Ah, vc poderia ter falado sobre a idéia de que essas coisas tem um fim fechado, em si mesmas, que a gente comentou aquele dia, lembra?
Inviaabilidades dos seus critérios:
(escrevi no brainstormers mas na hora de postar fiquei com vergonha e preferi aqui mesmo)
De certa forma os três são critérios subjetivos.
Suponhamos a seguinte pesquisa: "Freud e a sexualidade infantil".
Ela satisfaria o 1º critério? Depende... podemos considerar que a sexualidade infantil seja um problema, ou que envolve diversos problemas (não vou ficar exemplificando quais poderiam ser). Mas há margem para se dizer que não existe aí um problema. Aliás, de que tipo de problema estamos falando? Qualquer um ou algum problema social? E em relação a melhorar a vida das pessoas? Essa pesquisa poderia melhor a vida de algumas pessoas, talvez 100, 50, ou apenas das pessoas relacionadas a pesquisa (por estarem recebendo bolsa ou ganhando algum prestígio acadêmico, enfim). Seria preciso melhorar a vida de quantas pessoas pra ser considerada uma boa pesquisa segundo esse primeiro critério?
E quanto ao 2º critério? Será que a sexualidade infantil é uma questão fundamental? Talvez para quem tem contato com crinaças e observa uma série de acontecimentos alarmantes seja, mas para outras pessoas esta pode ser uma questão extremamente desimportante. E aí acabaríamos criando uma hierarquia estranha de importâncias. (A pesquisa deve ser fundamental pra quem?). E sobre o desenvolvimento do conhecimento científico? É complicado propor o descarte do que não contribui nesse sentido. Há questões que não são científicas, ou não podem ser investigadas por um método científico (como a religião por exemplo), então elas devem ser excluidas?
O 3º critério achei meio obscuro, não entendi muito bem. Você quer dizer que não se deve pesquisar coisas que já estão "esgotadas", ou algo desse tipo? Eu acho que o problema não é pesquisar questões batidas (como a moralidade em Nietzsche, na filosofia), afinal isso poderia ser até bom, pois quanto mais uma questão é explorada, mas pode haver um bom resultado, certo? O problema é quando essa questão não tem nenhuma utilidade prática e vira um clássico acadêmico, que ganha um caráter estético, de status intelectual., simbólico. Não há como impedir um estudante de pesquisar Nietzsche, por mais que hajam dezenas deles fazendo isso. Mas acho que daria pra mudar a forma como essas pesquisas se dão.
Acho também que estes três critérios parecem desprezar um pouco os interesses das ciências humanas.
Pessoalmente, uma pesquisa que muito me interessa é "Como os animais são tratados pela nossa sociedade". Leo, percebi que esta pesquisa não seria aprovada caso seus três critérios fossem aceitos. Talvez ela passasse pelo 3º (mas isso depende muito do que você quis realmente dizer). No entando, a considero extremamente útil, prática e atual!
Sem dúvida é bastante dificil promover essa "triagem" dos temas que devem ser aceitos. Achei muito boa a sugestão da ATUALIDADE como critério para todas as áreas do conhecimento. Por enquanto, acredito que este critério possa reduzir o grande número de pesquisas inúteis existentes por aí sem cometer tantos equívocos.
Em relação ao motivo pelo qual as pessoas insistem em estudar essas coisas que todos aqui criticamos, concordo com o Jonatas, parece falta de inteligência. Está é a parte mais complicada da questão, porque é praticamente impossível mudar esse sistema. Resumindo em duas palavras, a "tradição intectual" é a principal patrocinadora deste tipo de pesquisa que tanto nos incomoda.
Respondi estes comentários no post do brainstormers.
http://brainstormers.wordpress.com/2008/11/21/a-utilidade-e-a-relevancia-na-pesquisa-universitaria/
Postar um comentário
<< Home