Por que damos valor às vidas humanas? Por que achamos que o mundo deva ser justo? Por que devemos nos importar com a natureza? Quais as motivações das pessoas? E que nome dar a todas as coisas da vida que não entendemos, não sabemos descrever, mas com as quais temos de lidar o tempo todo?




O triste ato de pensar

por Outro corpo em movimento

Meu dia começou assim: as minhas poucas certezas e esperanças começaram a doer... e agora estão doendo tanto que eu queria arrancá-las de mim e finalmente não ser nada, mais nada. Estou lembrando que a vida não faz o menor sentido, não faz nenhum sentido! Isso é infinitamente triste, é muito difícil de aceitar e engolir simplesmente... surge em mim um sentimento de revolta e de raiva por causa da incompreensão. Na verdade é algo muito pior que incompreensão, afinal, se houvesse o que se compreender, mesmo que eu não o conseguisse, ao menos sentiria-me aliviada por saber que existe algum tipo de explixcação. Mas eu acho que não há razão, sentido e nem motivo nenhum pra que a vida exista. Como dói pensar assim, como é melancólico.

Eu sempre digo as pessoas que elas devem falar sobre as coisas que sentem... mas hoje me perguntei se isso realmente adianta (ajuda, melhora). Em algun casos acho que é muito útil falar sobre os sentimentos, principalmente quando eles são indefinidos, reprimidos, distorcidos, marginalizados, enfim. Mas sobre isso que estou sentindo agora (e que sinto frequentemente), pelo menos, não deve fazer diferença nenhuma falar. Ninguém poderia me ajudar a esncontrar um sentido na vida, e nem deixar de perceber as coisas que percebo (que as coisas têm muito pouco significado real, que as pessoas têm atitudes bobas, mecânicas, irrefletidas e é praticamente isso o que sustenta a existência, é basicamente a isso que as coisas se resumem). São tantos símbolos, ideais repetitivos e completamente substituíveis (os quais as pessoas jamais ousam substiuir), pressões, julgamentos, conceitos, prescrições, leis, regras, receitas, diagnósticos, rótulos. Será que alguma coisa que eu faço tem realmente fundamento? Duvido que sim. Sou um ser humano entupido de doenças psico-sociais. Estou aqui, vivendo com os demais da minha espécie, numa organização social que provoca em mim inúmeros tipos de perturbação, como timidez, desespero, complexos de diversos tipos, medo de ser enganada, medo de solidão, medo de ser assaltada, medo de ser preterida, medo de ser ignorada, medo de ser abandonada, medo de ser condenada, considerada culpada, medo de ser julgada, medo de não estar inserida, medo de não ser aceita, medo de ser estranha, anormal, medo de ter defeitos, medo de ser paranóica, medo de estar errada, medo de ser magoada. Ou seja, além de não encontrar nenhuma explicação mais ou menos razoável para o fato de eu estar aqui, isto ainda tem que ser algo insuportável.

Então eu tento pensar no que me agrada, no que me traz felicidade, mas, nem mesmo assim estou livre de me sentir mal. Essa organização social na qual vivemos não me permite ser feliz praticamente nunca. Penso nos animais, que me deixam feliz, mas eu não posso fazer nada por eles, não posso nem mesmo ter meia dúzia de animais morando comigo pra me alegrar a vida, afinal não tenho dinheito e nem disponibilidade para lhes proporcionar sequer uma vida medíocre. Para que eu pudesse fazer isso precisaria trabalhar logo e ganhar dinheiro, aí as coisas já começam a não fazer sentido de novo (vida estranha, ridícula, boba, triste!). Trabalhamos de qualquer jeito (e não existem alternativas ao trabalho) pra acumular uns bens que podem nos trazer um pouquinho de alegria. Trabalhamos como se estivéssemos, de certa forma, nos livrando de alguma coisa.

Penso no Leo... então sinto que sou impregnada de paranóias. Acho que ele sente pena de mim, fica comigo pra fazer uma boa ação (já que ele quer fazer algo pelo mundo), fico imaginando que ele vai me enganar, que só pensa em outras mulheres e que qualquer uma com a qual ele se envolvesse seria suficiente para perceber o quanto sou trocável, que alguma coisa fatídica terá que acontecer, que alguma coisa vai dar errado, que eu vou sofrer. Eu começo a chorar como uma criança só de tentar esboçar na minha mente a imagem de ele pensando em outra mulher. Ora, eu acredito que ele me ama, talvez seja uma das certezas menos voláteis que possuo, mas, não consigo estar tranquila com nada, porque ligeiramente após me convencer de seu amor por mim, surge na minha mente a cortante idéia: o amor é só um nome que inventamos para tentar generalizar e dramatizar um dos inúmeros sentimentos humanos. Não é como ilustram os filmes, nem como narram os livros, nem como rimam os poetas, nem como colorem os pintores. O amor é só uma invenção, um símbolo, mais um, como todos os outros que pretendem justificar e explicar nossa infeliz existência.

Penso na minha família... e: é um símbolo! Convenção, tradição, obrigação. Sim, eu os amo, eu os respeito, mas... o amor e o respeito são apenas nomes criados para blá blá blá blá...

Então, apelativamente, penso: “Deus, o que faço eu para conseguir viver tranquilamente?”, só que eu lembro que não acredito em deus... e que não há ninguém no mundo que me possa responder essa pergunta sem sugerir que eu ignore certas coisas, que deixe de pensar em outras, que eu permita que os costumes, convenções, hábitos e símbolos tomem conta do meu sistema racional, que eu acredite no que as pessoas dizem mesmo que não faça o menor sentido, mesmo que intuitivamente eu veja que parece mentira.

A vida me é assustadoramente estranha e difícil, tudo o que me sobra de real são as sensações (porque mesmo os meus sentimentos estão impregnados de exigências sociais). Assim, acho que vou ficar vivendo sempre de uma forma primitiva, dependente, solitária e triste. Não posso negar que tenho muitos momentos de alegria (como os que passo com o Leo, com meus amigos, com meus animais e com a minha família, quando vejo filmes bons, enfim), mas sei que a qualquer momento podem me acometer qualquer uma das minhas diversas doenças psico-sociais. Só espero que elas não me destruam completamente e que sempre haja um resto de mim para continuar tentando, para continuar planejando, para continuar propondo mudanças, para continuar cuidando e para continuar amando (seja lá o que isso signifique).

1 Comentários:

Blogger Estranha pessoa esta disse...

" tudo o que me sobra são as sensações."

É isso.

sexta-feira, agosto 08, 2008 2:36:00 AM  

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