Por que damos valor às vidas humanas? Por que achamos que o mundo deva ser justo? Por que devemos nos importar com a natureza? Quais as motivações das pessoas? E que nome dar a todas as coisas da vida que não entendemos, não sabemos descrever, mas com as quais temos de lidar o tempo todo?




É melhor perguntar demais do que de menos.

por Outro corpo em movimento

Estive pensando que as pessoas utilizam uma espécie de método indutivo em suas relações pessoais. E de um jeito bem mal feito, eu diria.
O que me parece que acontece é que as pessoas tentam evitar ao máximo uma investigação ativa sobre o que as pessoas ao seu redor sentem. Então, em casos onde é preciso levar em conta as preferências de outrem, costuma-se supor quais sejam elas em vez de questioná-las. Esta suposição é feita indutivamente, levando-se em conta a repetição de acontecimentos.
Acho que a parte ruim disso talvez não esteja no método indutivo, mas por não haver rigor.
Por exemplo: se eu falar sobre x umas 3 vezes e uma determinada pessoa reagir mal, provavelmente vou concluir que ela não gosta do assunto x e o evitarei imaginando que quando eu falar de x de novo ela não vai gostar. Neste caso parece bem mais sensato fazer isso mesmo, evitar o assunto, mas eu acredito que seria melhor se perguntássemos pra pessoa por que ela regae mal diante do assunto x, pois a indicação de que ela não gosta do assunto não explica porque ela não gosta, é apenas um dado repetido, a partir do qual não se pode concluir muita coisa, como no paradoxo do corvo ( http://en.wikipedia.org/wiki/Raven_paradox )
Tá, estou falando de comportamentalismo, mas acho que não é só isso.
Minha crítica é sobre as pessoas concluirem coisas em vez de perguntar ou investigar melhor. Não achei nenhum bom exemplo onde isso ocorre nitidamente, mas quando pensar em algum eu posto nos comentários.
Relacionei esta forma de conduta com o método indutivo porque um dos aspectos negativos de se usar o método indutivo é que muitas vezes ele não diz nada além de corroborar com certas suposições baseadas na repetição de acontecimentos. O fato de certos acontecimentos se repetirem só mostra que eles se repetem mas não mostra porque.
No caso das relações pessoais, se entendessemos porque determinada situação acontece (como a pessoa não reagir bem assunto x) poderíamos tentar fazer alguma coisa em relação a isso enquanto que apenas constatar que a pessoa não gosta do assunto e evitá-lo não muda nada.

Ainda não falei sobre a pior parte deste tipo de conduta: a grande probabilidade de se concluir coisas erradas.
O que ocorre é que não se pergunta pra pessoa porque ela não gosta de falar de x, mas com base em alguns dados conlcui-se que ela não gosta de falar de x pelo motivo y. Então molda-se um paradigma de como agir com a pessoa, considerando como certo o motivo y.
Penso que isto é bastante perigoso. É como tentar instalar um chuveiro sem saber a voltagem do lugar onde ele será instalado. A partir de alguns dados conclui-se que a voltagem é 110 e instala-se o chuveiro, só que neste caso, se a conclusão estiver errada provavelmente a resistência vai queimar e poderemos pensar num plano B.
Mas imaginemos que a resistência não queimasse e o chuveiro funcionasse, só que com pouca eficiência, gastasse mais energia e houvesse um risco iminente de acontecer uma explosão durante os banhos. Assim teríamos banhos de má qualidade por causa de uma conclusão errada e nem saberíamos disso, pois pra todos os efeitos, o chuveiro funcionaria normalmente, dando a falsa impressão de que estava certa a conslusão de que a voltagem era 110.
É isso o que acaba acontecendo nas relações pessoais com muita frequência. Muitas vezes gera-se um circuito de situações ruins que poderia ter sido evitado com uma simples pergunta. Como no caso do chuveiro, que bastava dar um jeito de descobrir qual a voltagem do lugar onde ele seria instalado. Talvez desse trabalho descobrir esta informação, mas certamente seria um desgaste bem menor do que o posterior desgaste resultante da instalação inadequada.
Acredito que não se deve economizar perguntas nem esclarecimentos nas relações pessoais, pois me parece bem mais saudável que se diga e pergunte coisas a mais do que coisas a menos.
Acho que o custo de se investigar melhor as pessoas é bem menor do que o prejuizo que temos em ficar tentando concluir coisas sobre elas sem de fato investigá-las.

3 Comentários:

Blogger Leo disse...

Parabéns noi, achei que ficou ótimo, os exemplos foram mto bons.

Tenho 2 comentários:
1. Embora perguntar seja bom, acho que em alguns casos não dá certo; se a pessoa reagiu mal 3 vezes por exemplo, as chances são de ela reagir mal uma quarta vez. E principalmente isto: as pessoas muitas vezes não falam a verdade, tanto por que elas não sabem seus próprios motivos (e inventam um na hora), como porque querem escondê-los (geralmente as pessoas são defensivas e evitam mostrar vulnerabilidade do seu sistema de crenças e valores).

2. Quero sugerir uma solução mais difícil, mas que provavelmente é mais criativa e interessante: sair do paradigma indutivista para ir para um popperiano. Ao invés de como disse, generalizar a partir de 3 ou 4 observações, criar um hipótese e fazer testes para tentar refutá-la (além é claro de testes para confirmá-la). Isto parece delimitar muito melhor as razões da pessoa, e não tem o problema de ela mentir. Sondagens indiretas também podem ser úteis, como falar de outros assuntos que poderiam dar indícios sobre a veracidade da sua hipótese.

quarta-feira, junho 09, 2010 12:58:00 AM  
Anonymous Karynn disse...

Sim, provavelmente a pessoa realmente iria reagir mal ao assunto pela 4ª vez e a questão é: como agir diante disso. Concordo com vc que o risco de a pessoa não saber a resposta ou mesmo não querer responder e achei ótima sua sugestão de aplicar o método Popperiano.
Mas acho que esta investigação deve envolver as duas pessoas, de modo que uma aprenda algo com a outra, por isso que perguntas podem ser eficientes, contam com a participação da pessoa analisada, ainda que ela possa dar respostas erradas(o que ainda assim tem algum valor perante a análise).
Da forma como vc propôs parece que apenas a pessoa que deseja investigar a outra vai participar e acho que ainda que a pessoa seja rigorosa, como vc está propondo, haverá o risco de ela concluir coisas que poderia ter perguntado com maior garantia de obter uma conclusão verossímil.
Háuma questão subjacente: existe uma verdade sobre a pessoa ou não? Quanto esta verdade é acessível pra própria pessoa e pras outras?
Me parece que tentar perguntar pra pessoa o que ela sente é mais eficiente (ainda que não seja garantido) do que usar o método Popperiano, quer demanda muito esforço (daí as pessoas acabam tendo preguiça de agir e alimentam a situação ruim). Em relação a este assunto, nenhum método é garantido, assim épreciso ver qual possui a melhor relação de custo benefício. Nao perguntar e tirar conclusões como no caso do chuveiro tem um custo baixo, mas o benefício a longo prazo pode gerar um grande prejuizo. Perguntar tem um custo médio, mas o benefício pode ser alto, principalmente em situações mais simples, como quando vc tá a fim de uma pessoa e resolve perguntar pra ela se ela quer ficar com você em vez de supor que ela quer ou não quer, por pequenos sinais que vc acha que ela deu. Ou quando vc quer dar um presente pra alguem e por uma serie de evidencias supôs que ela gostaria de uma determinada coisa.
Estou percebendo que o problema é que esta situações envolvem o elemento surpresa que possivelmente as pessoas queiram manter (eu, particularmente acho dispensável uma vez que diminui a chance de um resultado ótimo).
Ou pode-se adotar o método Popperiano que tem um custo bem alto e eu não sei se o benefício é mais garantido que no caso de perguntar pra pessoa.
Acho que no dia a dia, nas situações mais simples, perguntar já é um grande avanço, pois nem isso as pessoas costumam fazer, elas adoram concluir, morrem de medo de se aproximar umas das outras. E ir incorporando o método Popperiano (complementar as perguntas diretas) em sua conduta pode aumentar ainda mais a chance de se conseguir bons resultados.
Na verdade eu diria que esta proposta do método popperiano, neste caso, é o mesmo que dizer que a pessoa tem que ser bem observadora e cuidadosa e forjar situações para tentar extrair da pessoa informações que ela provavelmente nao obterá só perguntando.

quarta-feira, junho 09, 2010 1:56:00 AM  
Blogger Leo disse...

Adorei a resposta! =)

quarta-feira, junho 09, 2010 2:04:00 AM  

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