Por que damos valor às vidas humanas? Por que achamos que o mundo deva ser justo? Por que devemos nos importar com a natureza? Quais as motivações das pessoas? E que nome dar a todas as coisas da vida que não entendemos, não sabemos descrever, mas com as quais temos de lidar o tempo todo?




Observações sobre o comportamento sexual das pessoas

por Leo

Por conta de estar solteiro, tenho feito muitas observações sobre o comportamento de seleção sexual e corte das pessoas a minha volta. E tenho de dizer que os acho na sua maioria muito estranhos, e o modo como são irracionais e ineficientes em produzir resultados satisfatórios me angustia.

Acho que muitas pessoas tem uma visão muito distorcida destes processos, baseada em concepções idealizadas de como as coisas deveriam ocorrer (a pessoa certa, o príncipe encantado, "beleza é relativo", casamentos perfeitos, etc). Vou expor então como acho que as coisas de fato ocorrem. Estou deliberadamente misturando conhecimentos mais científicos com constatações mais pessoais.


As bases do comportamento sexual são instintivas, como é o caso da maioria das espécies vivas, os machos humanos, por terem gametas pequenos e móveis, tem mais sucesso reprodutivo fecundando a maior quantidade possível de fêmeas viáveis reprodutivamente, enquanto estas, por terem o gameta grande e nutritivo e nos mamíferos uma gestação longa e custosa, ficam naturalmente com o fardo de garantir a sobrevivência da cria, e tem a necessidade de buscar tanto um macho com boa qualidade reprodutiva e de sobrevivência, como um bom provedor para fornecer os recursos para criar seus filhos (que pode ou não ser o mesmo indivíduo).


Curiosamente o comportamento sexual parece se dividir entre o comportamento de interação sexual casual e o comportamento de busca de relacionamentos estáveis. A interação sexual casual é dominada por sentimentos de atração, que são provocados pela ativação de certos gatilhos emocionais em resposta a sinais específicos; as mulheres parecem ser estimuladas principalmente por sinais de dominância e competência sexual e social, enquanto os homens são mais por características físicas e sensoriais. A busca de relacionamento é dominada por critérios um pouco menos superficiais, como segurança, estabilidade, comprometimento afetivo e posse de recursos.

Acho que na grande maioria dos meios sociais os homens tem o papel ativo de escolher entre as mulheres aquela que lhe parece mais atraente e abordá-la e conquistá-la, enquanto as mulheres tem o papel passivo de selecionar entre os homens que as abordam e controlar o que querem com cada um.

Quero chamar atenção para o fato de que o mercado sexual (este contexto de busca e oferta de parceiros, interações e relacionamentos) é injusto, ineficiente e tem incentivos perversos.

* É injusto: A maior parte dos principais caracteres valorizados na seleção sexual não tem muito mérito pessoal e são em grande parte de origem genética (o que faz sentido pensando na sua razão de ser): altura, porte físico, extroversão, agressividade, inteligência, forma e tamanho de partes do corpo, propensão a acúmulo de gordura, características sexuais masculinas e femininas são caracteres com grande componente genético, e distribuídos de forma bastante desigual na população. Claramente há pessoas muito mais valorizadas sexualmente do que outras, a distribuição é desigual como qualquer outra característica. Há diversidade e variação de gostos, mas há tendências claras favorecendo alguns padrões.

* É ineficiente: As estratégias de seleção frequentemente levam a parceirias insatisfatórias para uma ou ambas as partes, muitas pessoas sistematicamente procuram e se atraem por parceiros que são incompatíveis com suas personalidades, ambições ou estilos de vida e tem relacionamentos conturbados e infelizes.

* Tem incentivos perversos: As estratégias e sinais de seleção de parceiros incentivam práticas indesejáveis, como desonestidade (esconder atributos indesejáveis e mentir ou dissimular sobre os atraentes, fingir interesse ou escondê-lo, dar falsas perspectivas de um relacionamento, de exclusividade e de fidelidade), superficialidade (ênfase em disputas de status baseadas em sinais de valor de baixa confiabilidade ou curta duração, como modas, aparências e especulações), agressividade (pela seleção de parceiros mais dominantes), objetificação sexual feminina (pela supervalorização de atributos físicos), promiscuidade e traição (pela seleção dos parceiros mais sexualmente competitivos).

É possível se definir a atratividade sexual de uma pessoa pela sua atratividade média na população em questão, assim, uma pessoa ou uma característica que é atraente para muitas pessoas pode ser dita mais atraente. Pessoas tendem a se relacionar com pessoas de atratividade semelhante, isso se deve ao processo de seleção sexual, e a instabilidade maior de relacionamentos com diferença grande de atratividade.

Além disso, a atratividade sexual de uma pessoa tem diversas implicações sobre seu sucesso social, opções e estilo de vida. Pessoas sexualmente atraentes tendem a ascender socialmente, pois são puxadas para cima pelas pessoas que as desejam, as querem por perto ou se relacionam com elas compartilhando seus recursos. Pessoas sexualmente atraentes tem mais opções de emprego, mais parceiros sexuais, e creio eu mais poder e acesso a recursos em geral. Esta percepção de status as leva a optarem por ambições, valores, meios sociais e opções profissionais específicas. Curiosamente, as pessoas menos atraentes tem de vencer na vida por outros meios, a acabam sendo incentivadas a desenvolver outras habilidades. Então, embora as pessoas mais atraentes tenham mais acesso a recursos que permitem seu desenvolvimento, também podem ter um contraincentivo a se desenvolver em outros aspectos por ter uma vida facilitada.


Os papéis sexuais e as diferenças de atratividade também criam injustiça e desigualdades sociais na medida que favorecem discriminação social a favor das pessoas mais atraentes em muitas situações nas quais não deveriam ser relevantes, favorecem a dominância masculina (pelo incentivo que os homens tem em estabelecer dominância social e sexual e em competições arbitrárias) e a objetificação da mulher e seu favorecimento em receber recursos (o que atua como um desincentivo a sua autonomia).

Devido à grande vantagem que a atratividade sexual proporciona, ela é um bem posicional que é disputado em muitos meios sociais; é comum ver competição de dominância sexual entre mulheres (principalmente com beleza e roupas), e entre homens (varia bastante, mas frequentemente por porte físico, riqueza, agressividade, inteligência, ...); estas disputas às vezes tomam formas bastante específicas e exdrúxulas (mais do que cantos de passarinhos e lutas de chifres) como esportes, política, artes e competição intelectual.


Além das inúmeras coisas infelizes que já expus, o processo de corte e relacionamento tem numerosos conflitos de interesses que criam jogos e disputas; o processo de aproximação sexual tem uma tensão de exposição em que cada um vai mostrando pouco a pouco suas cartas a fim de mostrar que tem qualidade tão boa quanto o outro, ao mesmo tempo que tentam ocultar seus pontos negativos (quando podem); há também um problema de sinalização de interesse, sinalizar mais interesse e necessidade do outro traz desvantagem pois tira seu poder de negociação sobre os termos da relação, cria subordinação, o que sinaliza baixo status. Investir no outro e se comprometer cria um conflito interno pois aumenta a chance de se machucar ao ser rejeitado, ou de perder muito ao se decepcionar, ou de se perder oportunidades com outras pessoas que possam aparecer. As mulheres tem um conflito a mais principalmente em relação a relacionamentos casuais que é o de se expor socialmente como promíscua, que é altamente desvalorizado em boa parte dos meios, o que faz com que sejam mais inibidas sexualmente. Após o estabelecimento do relacionamento frequentemente há disputas por dominância entre quem toma decisões, disputas por atenção, comprometimento emocional e outros recursos, disputas de insegurança e dominação para estabelecer fidelidade e compromisso, entre outras. Isso para não falar de quando há filhos e dinheiro envolvido. Estas disputas podem ser intensificadas ou não dependendo do modo como o casal lida com elas e com a diferença de status envolvido, quanto maior a diferença mais fácil é de um predominar naquela disputa.


Devido a estes conflitos e jogos, as pessoas criam estratégias de investimento, ataque e defesas, que demandam estratégias de resposta da outra parte e criam uma corrida armamentista do mal. Como vivemos numa sociedade competitiva e com algumas pessoas hostis e aproveitadoras, as pessoas geralmente tem muitas defesas. Então elas bebem para diminuir suas defesas, o que também prejudica seu senso de avaliação e as deixa mais impulsivas e propensas a tomar decisões ruins. Quantas pessoas procuram e começam seus relacionamentos por intermédio de álcool? (calma, não estou dizendo que seu relacionamento é ruim, apenas que é triste que a sociedade precise disso)


Minha conclusão é de que no aspecto sexual as pessoas são muito irracionais, e pela minha experiência adverti-las é pouco eficaz, abordagens mais racionais não costumam funcionar devido ao forte aspecto emocional e muitas vezes pouco consciente das questões envolvidas, incluindo a atração. De maneira que é um aspecto que temos de nos conformar em algum grau, e tentar lidar da maneira mais prática e menos danosa possível, o que é bem complicado. =(

6 Comentários:

Anonymous Diego C disse...

Esse post deveria render ao Leo direitos autorais sobre todos os lucros recebidos daqui em diante por bobagens como os Homens são de Marte e as Mulheres são de Vênus.
Esse post é genial, resume uma série de questões de maneira imparcial, brilhante e infelizmente não vai ser lido pela população que leu o livro sobre Marcianos.

E assim caminha a humanidade, com guerras frias sexuais e escolhendo mal suas leituras.

sexta-feira, julho 22, 2011 2:55:00 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Os critérios não são injustos, porque essas características genéticas correlacionam com um monte de coisa boa. Alem disso não faz sentido excluir o que a pessoa é geneticamente do que ela é de fato.
Eles não são ineficientes, pelo contrario. São extremamente eficientes. As características que se busca nos parceiros são os melhores preditores de felicidade em relacionamento a longo prazo, existem pilhas de meta analise a respeito. Uma pessoa é tanto mais feliz num relacionamento quanto menos ela acha que conseguiria achar um parceiro com mais: dominância, beleza física, capacidade de obter recursos, força física, estabilidade emocional e comprometimento. E isso é em relacionamento de longo prazo, imagina quão mais 'baixos' são os critérios eficiente para de curto prazo.

Eu já te falei sobre tudo isso tem um tempo, se você tem tem muitos bons argumentos de desqualificar essa informações (que vem de experimentos), você não deveria continuar falando esse tipo de coisa, porque é simplesmente mentira.

sexta-feira, julho 22, 2011 5:24:00 PM  
Blogger Leo disse...

Isso me interessa João, vc teria algumas referências?

sexta-feira, julho 22, 2011 6:04:00 PM  
Anonymous Jonatas disse...

Os critérios podem ser bons para algumas coisas, em termos de satisfação de preferências estéticas evolutivamente condicionadas, mas então o que questionamos é a validade atual e racional dessas preferências. Alguns são claramente ruins, por exemplo, não selecionar por inteligência alta, gostar de homens agressivos (que muitas vezes batem em mulheres) e pertencentes a "tribos sociais" ridículas.

Algo também mudou desde a invenção da contracepção. Não é mais importante a pureza e não promiscuidade da mulher, nem é tão relevante a traição ao fazer sexo com contracepção e sem envolvimento afetivo. Também não é mais necessário que mulheres selecionem homens por capacidade de as sustentar, já que elas trabalham e se sustentam.

Acho que um bom exemplo de comportamento bem-adaptado em termos de seleção sexual e afetiva ocorre entre homossexuais. If I were to design new criteria for love, I'd base them on more egalitarian and well-distributed criteria, and maximize satisfaction. O amor é atração egoísta a características. Poderia ser então atração a coisas como afinidade e experiências conjuntas, como ocorre na amizade.

Não acho que amar alguém por dinheiro seja pior do que amar alguém por beleza ou dominância, nem mesmo em termos de estabilidade do sentimento. Também não vejo problema a princípio com monetização de sexo e de casamento, exceto marginalmente se causados por coisas ruins.

Ótimo texto, Leo. Vou salvar para adicionar ao meu banco de dados sobre o assunto e continuar elaborando isto.

sábado, julho 23, 2011 3:40:00 AM  
Anonymous Wesley disse...

Léo, o post é sensacional!
Muito bom mesmo.

quinta-feira, julho 28, 2011 9:30:00 AM  
Blogger Renan Oliveira Andrade disse...

Léo parabéns pelo post e pela seleção das imagens! Muito bons mesmo!!!
Compartilho da opinião do Diego, o post é genial!
Entenda e aceite que você tem uma visão à frente do tempo em que vive e tudo melhorará...
Escrevo aqui uma frase que me veio durante um "surto psicótico" e que me gerou uma posterior internação voluntária numa clínica psiquiátrica: "Os extremos são óbvios."
Creio que ela poderá te ajudar a destrinchar sua mensagem de uma maneira mais simples para aqueles que não tem conhecimento, cultura, amadurecimento, boa vontade e/ou entendimento para assimilar o conteúdo aqui publicado.

Abs

sexta-feira, julho 29, 2011 12:35:00 AM  

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