Duas coisas que não sei nomear ou definir
por Leo
Há duas coisas que identifiquei porém não consigo definir precisamente o que são, talvez sejam efeitos, fenômenos ou mesmo figuras de linguagem. Apesar disso me parecem ser importantes. Vou tentar caracterizá-las da melhor maneira que consigo.
Parece-me também que são bem relacionadas.
1) Efeito um: Coisas que são satisfeitas devido a sua constituição ou situação.
Observe a frase:
"Você está lendo esta frase."
ou ainda:
"Você está de olhos abertos."
Elas são verdadeiras porque é necessário que se esteja de olhos abertos e lendo-as para que se possa ter acesso a elas e finalmente julgar se são verdadeiras. Elas são verdadeiras porque o ato de lê-las as torna verdadeiras.
Um outro exemplo do mesmo efeito:
"Duvido de tudo, logo não duvido que duvido de tudo."
Nesta, a ação da primeira oração torna a segunda verdadeira.
Creio que o que esteja ocorrendo é que estas frases, por sua constituição ou situação, criam as condições que as tornam verdadeiras, um feito bastante engenhoso. São sentenças auto-suficientes, ou de validade auto-garantida.
O efeito é mais geral, não precisariam ser frases, poderíamos ter um dispositivo cujo acesso dependesse de satisfazer determinada condição utilizada pelo próprio dispositivo.
Creio que o mesmo efeito esteja por trás de paradoxos como:
"Esta afirmação é falsa."
A validade da afirmação é utilizada para invalidá-la. Ou ainda, o chamado paradoxo de Curry:
Esta sentença implica em X.
Suponhamos que ela seja verdadeira, então ela é verdadeira e como implica X, temos X.
Ora, mostramos que ela implica X, logo ela é verdadeira, e X também.
Em símbolos:
a := a=>X
a, a^a, a^(a=>X), X
portanto a=>X, a, X.
De forma que sua simples suposição provoca sua validade (?!).
Um exemplo mais intrigante é o das "self-fulfilling profecies" ou
profecias auto-concretizantes; são profecias que ao serem feitas acabam causando a si mesmas.
O aspecto intrigante deste efeito é a sua auto-suficiência, ele é de tal forma que é suficiente para garantir uma certa propriedade que as coisas não costumam ser capazes. Como podemos aproveitar isto? Isto é presente em muitos outros lugares? Este efeito tem um nome?
2) Coisas que supomos ou fazemos por estipulação prática
"Por que escolhemos viver ao invés de não-viver?
Por que fazemos coisas ao invés de não as fazer?
Por que existem coisas ao invés de não existir?"
Minha questão não é metafísica, estou tentando mostrar algo que estas frases tem em comum, e todas falam de coisas que são ou ocorrem em oposição ao não ocorrer. Minha idéia é que há coisas que não são feitas por um motivo específico, mas simplesmente porque fazê-las é mais interessante do que não fazê-las. E creio que estas coisas sejam bastante comuns, por exemplo a pergunta:
"Por que atribuímos valor às coisas?"
Creio que não haja um motivo específico para isso, é difícil justificar porque se fez uma atribuição de valor a algo ao invés de não o fazer. Creio que a resposta seja simplesmente porque é mais útil ou mais interessante fazer do que não fazer.
Da mesma forma acho que a pergunta:
"Por que não vivemos considerando a possiblidade de eventos extremamente improváveis acontecerem?"
Acho que é simplesmente porque não se considerá útil viver assim, viver considerando o improvável é muito menos útil do que viver desprezando essas possibilidades.
Assim, acho que diversas coisas são como são não por um motivo, mas porque a alternativa seria inútil, ou sem sentido, mesmo que não saibamos se esta instância é melhor.
De alguma forma este efeito é utilizado no efeito #1, as coisas auto-suficientes costumam garantir sua auto-satisfação fazendo sua não-auto-satisfação desinteressante, inútil, sem sentido.
Um exemplo que julgo ser bem concreto sobre o tipo de coisa que estou falando é a demonstração de teoremas por contradição. Muitas vezes temos uma proposição que sabemos ser verdadeira, mas supomos que seja falsa na esperança que isto revele uma contradição. Este é um caso em que escolhemos algo incerto, porque a outra opção não nos leva a nada.
Assim, creio que deve haver muitas coisas que são verdadeiras porque o caso em que são falsas é trivial. Ou coisas que pensamos por que pensar diferente não é útil.
Minhas perguntas são:
Esses dois "efeitos" têm algum nome? Eles são "efeitos", se não, que tipo de coisa são?
Como defini-los adequadamente?
Que outros tipos de coisas tem essas propriedades?
Como gerar estes efeitos?
Que tipo de coisa podemos fazer com eles?
Qual a relação entre eles?
Parece-me também que são bem relacionadas.
1) Efeito um: Coisas que são satisfeitas devido a sua constituição ou situação.
Observe a frase:
"Você está lendo esta frase."
ou ainda:
"Você está de olhos abertos."
Elas são verdadeiras porque é necessário que se esteja de olhos abertos e lendo-as para que se possa ter acesso a elas e finalmente julgar se são verdadeiras. Elas são verdadeiras porque o ato de lê-las as torna verdadeiras.
Um outro exemplo do mesmo efeito:
"Duvido de tudo, logo não duvido que duvido de tudo."
Nesta, a ação da primeira oração torna a segunda verdadeira.
Creio que o que esteja ocorrendo é que estas frases, por sua constituição ou situação, criam as condições que as tornam verdadeiras, um feito bastante engenhoso. São sentenças auto-suficientes, ou de validade auto-garantida.
O efeito é mais geral, não precisariam ser frases, poderíamos ter um dispositivo cujo acesso dependesse de satisfazer determinada condição utilizada pelo próprio dispositivo.
Creio que o mesmo efeito esteja por trás de paradoxos como:
"Esta afirmação é falsa."
A validade da afirmação é utilizada para invalidá-la. Ou ainda, o chamado paradoxo de Curry:
Esta sentença implica em X.
Suponhamos que ela seja verdadeira, então ela é verdadeira e como implica X, temos X.
Ora, mostramos que ela implica X, logo ela é verdadeira, e X também.
Em símbolos:
a := a=>X
a, a^a, a^(a=>X), X
portanto a=>X, a, X.
De forma que sua simples suposição provoca sua validade (?!).
Um exemplo mais intrigante é o das "self-fulfilling profecies" ou
profecias auto-concretizantes; são profecias que ao serem feitas acabam causando a si mesmas.
O aspecto intrigante deste efeito é a sua auto-suficiência, ele é de tal forma que é suficiente para garantir uma certa propriedade que as coisas não costumam ser capazes. Como podemos aproveitar isto? Isto é presente em muitos outros lugares? Este efeito tem um nome?
2) Coisas que supomos ou fazemos por estipulação prática
"Por que escolhemos viver ao invés de não-viver?
Por que fazemos coisas ao invés de não as fazer?
Por que existem coisas ao invés de não existir?"
Minha questão não é metafísica, estou tentando mostrar algo que estas frases tem em comum, e todas falam de coisas que são ou ocorrem em oposição ao não ocorrer. Minha idéia é que há coisas que não são feitas por um motivo específico, mas simplesmente porque fazê-las é mais interessante do que não fazê-las. E creio que estas coisas sejam bastante comuns, por exemplo a pergunta:
"Por que atribuímos valor às coisas?"
Creio que não haja um motivo específico para isso, é difícil justificar porque se fez uma atribuição de valor a algo ao invés de não o fazer. Creio que a resposta seja simplesmente porque é mais útil ou mais interessante fazer do que não fazer.
Da mesma forma acho que a pergunta:
"Por que não vivemos considerando a possiblidade de eventos extremamente improváveis acontecerem?"
Acho que é simplesmente porque não se considerá útil viver assim, viver considerando o improvável é muito menos útil do que viver desprezando essas possibilidades.
Assim, acho que diversas coisas são como são não por um motivo, mas porque a alternativa seria inútil, ou sem sentido, mesmo que não saibamos se esta instância é melhor.
De alguma forma este efeito é utilizado no efeito #1, as coisas auto-suficientes costumam garantir sua auto-satisfação fazendo sua não-auto-satisfação desinteressante, inútil, sem sentido.
Um exemplo que julgo ser bem concreto sobre o tipo de coisa que estou falando é a demonstração de teoremas por contradição. Muitas vezes temos uma proposição que sabemos ser verdadeira, mas supomos que seja falsa na esperança que isto revele uma contradição. Este é um caso em que escolhemos algo incerto, porque a outra opção não nos leva a nada.
Assim, creio que deve haver muitas coisas que são verdadeiras porque o caso em que são falsas é trivial. Ou coisas que pensamos por que pensar diferente não é útil.
Minhas perguntas são:
Esses dois "efeitos" têm algum nome? Eles são "efeitos", se não, que tipo de coisa são?
Como defini-los adequadamente?
Que outros tipos de coisas tem essas propriedades?
Como gerar estes efeitos?
Que tipo de coisa podemos fazer com eles?
Qual a relação entre eles?