Por que damos valor às vidas humanas? Por que achamos que o mundo deva ser justo? Por que devemos nos importar com a natureza? Quais as motivações das pessoas? E que nome dar a todas as coisas da vida que não entendemos, não sabemos descrever, mas com as quais temos de lidar o tempo todo?




Uma Wikipedia da Ciência

por Leo

Por que ainda não existe um grande Wiki científico? Certamente esta idéia já deve ter passado pela mente de muitas pessoas influentes; por que isso ainda não foi feito? Por que as universidades e a comunidade científica não se organizam e criam?

A Wikipedia é um projeto voluntário que deu surpreendentemente certo, apesar de todos os problemas e dificuldades, e hoje é um projeto de proporções imensas, um dos sites mais visitados do mundo, podendo ser vista como uma importante fonte de informação para o público leigo.

Seria extremamente útil para o desenvolvimento científico que se criasse um grande sistema capaz de centralizar todo o conhecimento sendo publicado sobre as mais diversas áreas. Além disso, seria uma fonte importante de referência e informação, e favoreceria muito a interdisciplinaridade. Seria como um gigantesco review, cobrindo o conhecimento atual de cada assunto, seu desenvolvimento histórico (tão detalhado quanto se queira), as contribuições de cada autor, os artigos importantes, os centros de pesquisa, as conexões com outras áreas. Poderia servir também como um local onde se pudesse saber sobre as linhas de pesquisa do mundo todo, sobre quem estuda cada assunto, e dependendo de como for feito, até um local para discussão dos tais assuntos. Além de ser um modo de disponibilizar acesso a muitas coisas que de outra maneira permaneceriam esquecidas.

O projeto poderia ser inicialmente mais restrito, autoritário e conservador, e se abrir lenta, gradual e seguramente, conforme a utilidade, a necessidade e a resposta da abertura. Poderia começar com algumas poucas áreas, como matemática, física, biologia e química e aos poucos ir incluindo outras como as ciências humanas.

Acho que deveria se aproveitar um tal projeto para que incorporasse também um meio de discussão e comunicação científica.

Coloco aqui algumas idéias e sugestões para um tal projeto:

- Quem começaria o projeto?
Qualquer um, seja um grupo de universidades, de cientistas, de estudantes ou até de pessoas da Internet.

- Como seria realizada a criação?
Cada regulamentação e aspecto da estrutura seria fortemente discutido por uma comissão ou publicamente e dentro de um prazo, as decisões seriam votadas.

- Quem participaria dessa comissão?
Filósofos e sociólogos da ciência, acadêmicos de diversas áreas, administradores de Wikis, e possivelmente muitos outros, que fossem úteis a decidir a estrutura, a administração, a regulamentação, a organização e o planejamento do projeto.

- Quem participaria?
A principio, qualquer um, mas com controles, como a exigência de algum tipo identificação (o que não necessariamente impede o anonimato), e de penalidades no caso de má conduta (como ser bloqueado temporaria ou permanentemente). Creio que é de interesse geral e de grande importância para o projeto que o Wiki fosse aberto a todos, e de se evitar a formação de grupos centralizando o poder.

- Qual seria o propósito?
Tornar o conhecimento científico público, acessível a toda comunidade científica, e ao mesmo tempo tentar organizá-lo. A tarega de torná-lo acessível ao público leigo poderia ser um projeto-irmão, talvez uma Wikipedia científica para o público leigo.

- Como definir as regras e organizá-la?
Dado que se requer muito mais rigor e segurança do que os Wikis comuns, seria preciso um planejamento também sério e rigoroso. É necessário um forte controle de qualidade, confiabilidade, vandalismo, segurança, manutenção e administração.
A Wikipedia tem desenvolvido diversos sistemas para isto, eles poderiam ser aproveitados e melhorados.

- Como garantir a qualidade?
Esta é uma questão difícil, mas poderia-se inicialmente exigir que toda edição fosse feita com a exigência de declaração precisa de uma referência (talvez houvesse um cadastro das referências aceitas), de modo que toda declaração fosse verificável.

- A estrutura de um Wiki é adequada para a formalização do conhecimento científico?
Creio que seja um meio muito bom para tal, e ainda que tenha uma porção de aspectos inadequados, não conheço uma estrutura melhor. Além do que ela poderá ser modificada no decorrer do projeto.

Se alguém souber de um projeto semelhante, por favor, me avise.

Vegetarianismo

por Leo

Não há muito consenso a respeito da questão de domesticarmos, produzirmos e matarmos animais para nosso consumo. Acho que isto se deve ao envolvimento de questões éticas fundamentais que no fim dependem de crença, preferência, interesse e conveniência pessoal.

Identifico aqui quatro questões principais:

1. Por que e como atribuir valor à vida dos outros animais?
2. O que é efetivamente prejudicial aos animais?
3. Que atitudes são efetivas a fim de evitar isto?
4. Quão viáveis e convenientes são estas atitudes na vida individual?

1. Por que e como atribuir valor à vida dos outros animais?

Creio que esta seja a mais fundamental e controversa. Não há nada que nos obrigue a atribuir valor a vida alheia, apesar de toda a moral e sentimento que desenvolvemos em sociedade. Poderíamos questionar se devemos mesmo valorizar a vida e evitar a morte e o sofrimento, e, antes de qualquer coisa, se há algum motivo razoável para valorizarmos a nossa própria. Devemos mesmo buscar a eliminação da morte e de todo tipo de sofrimento?

Na natureza, os seres vivos se alimentam um dos outros e este fato é essencial para a sustentação dos ecossistemas, mas isentamos os animais de qualquer responsabilidade, em parte por serem guiados por seus instintos e em parte porque, de qualquer forma, não haveria nenhum modo de fazê-los agir de outra forma.

Nossa sociedade alcançou um grau de desenvolvimento tecnológico que nos permite viver sem a necessidade de consumo animal, o que poderia ser encarado como a possibilidade de se eliminar um sofrimento evitável para estes, embora algo deste tipo atualmente provocaria consideráveis perdas para diversas indústrias e requeriria uma "pequena" revolução cultural.

Entretanto, falta ainda um princípio geral que fundamente tal ação, e o problema não é tão trivial. Não podemos atribuir o mesmo valor a todos os seres vivos, seria completamente impossível viver atribuindo o mesmo valor aos seres humanos, aos bois, às plantas, às formigas e a cada uma das bilhões de bactérias que habitam cada um destes. Se a base do valor for a sentiência e a base da sentiência for a complexidade do sistema nervoso, seria necessário estudar cuidadosamente cada animal para se verificar até que ponto ele é capaz de sofrer. Ou ainda, poderíamos eliminar o problema criando animais sem sistema nervoso, o que provavelmente geraria polêmicas muito maiores...

A mim parece que atribuímos valor aos seres vivos de acordo com o grau de semelhança que têm conosco, de um modo bastante egocentrista e antropocentrista. Assim, valorizamos mais um ser se ele tem a mesma cultura, os mesmos sentimentos e o mesmo comportamento aparente que nós. Mas de qualquer forma é um critério arbitrário e não vejo nenhum outro melhor para resolver a situação.

Enfim, me parece que a questão se resume a se identificar qual critério de fundamentação de valor é mais atraente e consistente com seus demais valores, e daí se verificar como ele se aplicaria aos diversos tipos de seres vivos.

2. O que é efetivamente prejudicial aos animais?

Esta parece ser uma questão mais etológica do que ética; embora a comparação de nosso comportamento com o dos animais seja uma heurística útil, não sabemos qual sua confiabilidade. Além disso, temos uma porção de preconceitos errôneos sobre suas necessidades e o que é bom ou ruim para eles. Para que possamos evitar prejudicá-los precisamos saber primeiramente quais suas necessidades reais, o que lhes causa sofrimento (e o que lhes é indiferente) e o se pode fazer em relação a isso. Há vários assuntos envolvidos aqui, o mal-trato durante a criação animal, o uso de galinhas e vacas para obtenção de ovos e leite, a domesticação de animais como gatos ou cavalos (e o que seria deles se parássemos de domesticá-los), o mal envolvido na pesca de peixes e animais marinhos, etc.

3. Que atitudes são efetivas a fim de evitar isto?

A não ser que estejamos preocupados com intenções, ações sem consequências não nos interessam. Se queremos diminuir o sofrimento dos animais, devemos nos perguntar que medidas são mais efetivas nesse sentido. Talvez devêssemos criar grandes campanhas contra o mal-trato na sua criação, ou seu abate. Talvez devêssemos preferir comer carne bovina menos nobres do que corações de galinha (supondo que isso vá gerar a morte de menos indivíduos). Embora o mercado seja um sistema altamente regulado, a ação de um único indivíduo não chega nem a afetar arredondamentos. Proporcionar debates qualificados me parece ser muito mais efetivo.

4. Quão viáveis e convenientes são estas atitudes na vida individual?

Antes de tomarmos grandes decisões, é preciso verificar se de fato temos condições de sobreviver nas condições delas, que tipo de mudanças isso gera em nossas vidas e o quão (in)conveniente isto pode ser, para que possamos decidir responsavelmente se queremos ou não tomá-las. E aí estão as questões mais práticas e presentes na nossa vida, como: meus pratos favoritos são carnes? Eu seria mais infeliz com uma dieta vegetariana? Minha rotina, meio e contexto social permitem um tal dieta? Irei reduzir meu consumo, alterar minhas opções ou interrompê-lo totalmente? Isso tornará minha vida mais saudável? Estou disposto a desenvolver uma intolerância por carne a longo prazo? Isso não poderá ser eventualmente bastante inconveniente socialmente? Estou disposto a isso? Que opções tenho?

Os problemas éticos envolvidos com animais estão longe de serem resumidos a estes, mas acho que há aí uma boa quantidade para reflexão. A propósito, ainda não tomei nenhuma decisão a respeito e continuo comendo carne...