Por que damos valor às vidas humanas? Por que achamos que o mundo deva ser justo? Por que devemos nos importar com a natureza? Quais as motivações das pessoas? E que nome dar a todas as coisas da vida que não entendemos, não sabemos descrever, mas com as quais temos de lidar o tempo todo?




Sem isso

por Outro corpo em movimento

Eu nao quero ser um cogumelo
Não quero ser um prego
Não quero ser um cordão de umbigo
Não quero ser uma casa de botão
Nem um botão

Não quero ser uma uva passa
Nem mesmo uma alpargata
Ou ainda uma dobradiça
Também não quero ser uma colher de sopa
Não quero ser aquela moça
Nem sua melhor amiga

Não quero ser uma hortaliça
Nem quero ser um mapa mundi
Tampouco um professor
Ou, do professor, o filho

Não quero ter o seu estilo
Quero muito ser exatamente eu mesma
Só e impreterivelmente isto
Mas sem estes desesperos
E sem tantos sentimentais impecilhos
Boicotando quaisquer ameaças de bons momentos
E umidecendo frequentemente os meus cílios

Um exemplo filosófico

por Outro corpo em movimento

As vezes um certo mau humor aparece como a primeira sensação ao acordarmos, talvez derivado de uma espécie de incômodo ou desconforto mental, uma intolerância ao enfileiramento sistemático e previsivelmente rítmico de fatos repetidos gerados por regras comumente absurdas.
O mau humor senta-se a mesa pretendendo distrair-se com o desjejum para finalmente ignorar tudo o que atrapalhe o projeto de um bom dia, quando alguem interrompe o silêncio digestivo dizendo:
- Credo! Comer salada no café da manhã ?!
O mau humor olha para seu potinho com salada e reflete um pouco. Conclui que por estar ingerindo basicamente algumas vitaminas e sais minerais, uma pequena quantidade de carboidratos e proteínas, e água, sua digestão será bem fácil. Observa que a boca que arremessou o espanto com a presença da salada no desjejum está prestes a se encher de pão, margarina, presunto e queijo, que são alimentos bem aceitos na ocasião, embora exijam um considerável esforço digestivo para sintetizar: gordura artificial estranha ao organismo, uma fatia de animal morto que depende da atuação de enzimas específicas, uma massa cheia de carboidratos, e uma fatia amarela de gordura animal sólida (saturada) e cheia de colesterol.
Não percamos tempo discutindo se a refeição matutina deve ser "leve" ou "pesada", pois parece que a aceitação de um alimento, ao menos neste caso, depende muito mais do seu valor cultural do que nutricional.
Muitas vezes não há a menor preocupação com o sentido dos hábitos, e apenas se efetua a propagação deles. O mau humor irrita-se com esta constatação e demora um bom tempo para começar a se transformar em comodismo.
Com estas palavras pretendo ilustrar o que entendo por filosofia. Para mim, a reflexao feita pelo mau humor é uma atitude tipicamente filosófica. Este tipo de exercício costuma ser evitado pela maioria das pessoas, o que contribui para a perpetuação de um sistema que difunde uma série de preconceitos sem sentido.